domingo, outubro 02, 2011

A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE


Paulo Freire nasceu no Recife, Pernambuco, Brasil, em  1921. Embora tendo se formado em Direito, logo descobriu sua vocação de Educador. Porém, não um educador formal, profissional, mas um educador para a liberdade. 
Sua primeira experiencia foi no SESI – Serviço Social da Industria, onde trabalhou com famílias operarias nos “ Círculos de Pais e Professores”; e  experimentou o que ele mesmo  chamou de “uma educação social”. No SESI esteve por 10 anos, de 1947 a 1957. Esta foi a base concreta sobre a qual Paulo Freire elaborou sua  tese de doscencia para a cadeira de Historia e Filosofia  da Educação, na Escola de Belas Artes  de Pernanbuco, defendida em 1959.
Este trabalho só seria publicado, muito mais tarde, em 2001, quatro anos apos sua morte, que ocorreu em 1997, e se chamou: “ Educação e  Atualidade Brasileira”.Foi seu primeiro trabalho de folego, denso, com reflexões que seriam aprofundadas em suas obras posteriores, entre elas: “ Educação como pratica da liberdade”, “ Ação Cultural para a liberdade” e “Pedagogia do oprimido”.
O período mais fertil da experiencia e reflexão de Paulo Freire se deu nos últimos anos  da década de 50 e inicio dos anos 60. Ai ele organizou o “Serviço de Extensão Cultural” da Universidade Federal de Pernambuco e participou ativamente do Movimento de Cultura Popular. Foi quando, junto com sua esposa Elza, que tambem era educadora, e uma equipe de colaboradores, desenvolveu um método de alfabetizaçao que permitia o aprendizado da leitura e da escrita em 45 dias. Este não era um método abstrato de aprendizagem, mas um jeito concreto de ensinar e aprender as palavras e o mundo.
Uma proposta pedagógica que promovia alfabetização politica; o que significa muito mais do que se apropriar dos códigos da leitura   e da escrita. Uma pedagogia que, partindo da realidade concreta e suas formas de interpretação, busca supera-las e construir um conhecimento novo. Este conhecimento novo, já nao e  mais apenas o conhecimento teórico do educador ou o conhecimento empírico do educando, mas algo diferente. Um conhecimento que integra  pratica e teoria, e desperta ambos  os sujeitos do processo educativo – educando e educador; dirigente e dirigido; liderança e base – para a luta de transformação da realidade. Portanto esta educação, é um ato politico que reeduca todos os sujeitos envolvidos. É mais do que transmissao de conteudos. Envolve postura e atitude diante do undo e do OUTRO, que é diferente de mim. Não é a teoria ou os conceitos abstratos que educam. É a pratica concreta que, sendo pensada à luz da teoria, transforma a realidade. Esta é a pedagogia de Paulo Freire – uma práxis transformadora das estruturas e das pessoas.
Ele mesmo dizia que nao era criador de um “método de alfabetização ou de conscientizaçao”, mas  o que propunha era  um conjunto de principios, de valores pedagógicos “encharcados” de realidade. Nao é possivel estudar Paulo Freire, sem olhar para nossa própria pratica.  E isto é dolorido porque implica descobrir o opressor que hospedamos dentro de nos mesmos. Significa morrer, para nascer de novo. Um novo homem e uma nova mulher, como dizia Che Guevara.
A pedagogia freireana é  uma pedagogia radical, que propõe subverter a ordem social vigente em todos os  seus níveis: pessoal, micro e macroestrutural. Nao é uma didatica, ou uma tatica politica. Ainda que um conjunto de técnicas ou pequenas açoes, como: o jeito de dispor as carteiras numa sala de aula, o debate em círculos, o jeito de coordenar uma reuniao, a distribuiçao coletiva de tarefas, o estudo em pequenos grupos, façam parte do exercício democratico, do combate ao autoritarismo e, portanto, da desconcentraçao de poder. Porque todas essas pequenas ações restituem, gradativamente, a palavra àquelas pessoas que, historicamente, aprenderam apenas a ouvir e obedecer.
Ajudam a construir autonomia com responsabilidade. Desafiam a superar limites pessoais. Neste sentido, embora tenha sido pensada a partir da realidade brasileira e latino americana, a pedagogia freireana serve para qualquer lugar do mundo, onde existam oprimidos e opressores. Para Paulo Freire, sua “teoria da ação dialogica” pressupoe dois momentos  fundamentais: o reconhecimento da desumanização e o angajamento em um processo de humanizaçao. Ou, dito de outra forma, pressupõe o momento da denuncia e o momento do anuncio. Ambos construidos dialogicamente, num ocesso de problematização que relaciona os fenomenos entre si, com suas causas e efeitos; o simples e o complexo; o local e o global.
Numa especie de espiral que, unindo teoria e pratica, permite compreender  o funcionamento da sociedade, na medida em que vai desvelando a realidade. Em suas próprias palavras: “ não ha utopia verdadeira fora da tensão entre a denuncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável e o anuncio de um futuro a ser criado, construído, politica, estetica e eticamente, por nos, mulheres e homens.”
O passo a ser dado, na perspectiva freireana, pressupõe riscos, porque o novo não está dado, precisa ser construído, do projeto à execução. E isto assusta. A maioria das pessoas prefere levar uma vida medíocre porque não quer correr riscos. Prefere nadar a favor da correnteza.
Mas a construção do novo, exige ousadia, criatividade. Exige romper com praticas e costumes cristalizados. Paulo Freire dizia que a luta de classes é um dos motores que move o mundo, mas não é o único. E ele reservou à capacidade de sonhar, um motor fundamental na construção histórica de uma nova sociedade.   È dificil delimitar na obra de Paulo Freire, categorias teóricas puras.
Mas podemos destacar alguns valores e princípios pedagógicos. O principal deles é a “dialogicidade”, porque para Freire, o dialogo é a matriz da democracia. O segundo é o trabalho coletivo e o respeito ao conhecimento de-experiência-feito: “ ninguém educa ninguém, ninguem se educa sozinho; as pessoas se educam entre  si, mediatizadas pelo mundo”. E ainda, podemos acrescentar: a ética, a tolerância   a politica, a esperança, a indignação e a autonomia. Todos esses principios constituem “tijolos” na construção do protagonismo e da emancipação popular e nao podem ser  pensados isoladamente, mas de forma integrada, totalizante. Esses princípios nos permitem olhar  a vida e as potencialidades humanas  em todas as suas dimensões. O capitalismo nos dividiu, nos  fragmentou.
Temos que reaprender a nos construirmos por inteiro. E para isso è preciso que ações concretas sejam realizadas e um conjunto de atividades sejam colocadas à disposição das novas gerações para que elas percebam que o caminho não é único. E que não existe apenas um jeito de caminhar. Mas que novos caminhos se fazem ao andar. E podem ser muito mais prazerosos, podem lhes dar muito mais sentido as suas vidas, do que o que a sociedade atual oferece.
No mundo de hoje, onde a mídia tomou conta do imaginário popular, vendendo um modo de vida que só beneficia o mercado; onde a ideologia do consumo e o individualismo competitivo tornaram-se objetivos de vida; e o limite do sonho, constitui-se naquilo que o dinheiro pode comprar, a pedagogia de Paulo Freire é de uma atualidade impressionante. Faz-se urgente, mais do que nunca na história humana, um processo de desvelamento da realidade, de desideologização do senso comum e da prática cotidiana.
A pedagogia de Paulo Freire é a pedagogia do amor.

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